Foram 123 dias de uma batalha pela vida.
De carinho, de dedicação, de acreditar no que parecia impossível.
Frankielen chegou ao hospital com uma hemorragia grave no cérebro. Três
dias depois, os médicos constataram a morte cerebral.
A jovem não tinha mais chances de viver,
mas, dentro dela, batiam mais dois corações: o de Azaphi e o de Ana
Vitória. A gestação estava apenas começando, no segundo mês. A equipe
médica tinha, então, o desafio de manter o corpo da mãe funcionando para
que os dois bebês pudessem se desenvolver.
“Nós precisávamos manter a pressão
adequada da mãe, a oxigenação adequada e manter todo o suporte hormonal e
nutricional dela”, explica o médico Dalton Rivabem.
Cada minuto, cada avanço, cada resposta:
foi uma gravidez monitorada 24 horas por dia e comemorada nos detalhes
por médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas e outros
profissionais da saúde.
Frankielen foi atendida pelo Sistema
Único de Saúde (SUS). Entre os cuidados, estava uma ecografia todos os
dias. O principal desafio, contam os médicos, era a de fazer com que os
bebês sentissem o afeto que a mãe não podia dar. Pra isso, família e
equipe acariciavam a barriga, conversavam e cantavam para os bebês.
“Nós trouxemos canções para as crianças.
Cantávamos: ‘Nós amamos vocês, um dia de cada vez'”, conta a capelã e
musicoterapeuta Érika Checan.
Foi no hospital, cercada de carinho, que
Frankielen ficou durante os sete meses de gravidez e até os médicos não
poderem mais esperar. Os bebês nasceram com a saúde compatível com a de
prematuros dessa idade.
Hoje, os bebês ficam isolados porque
precisam de muitos cuidados, principalmente por causa do risco de
infecção. Ana Vitória, que nasceu com um 1,4 quilo, é um pouquinho maior
do que o irmão Azaphi, que veio ao mundo com 1,3 quilo.
Para os familiares, a hora mais
importante do dia é o momento da visita aos irmãos. É um encontro
especial, de olhares apaixonados, de preencher o coração machucado. Os
médicos avaliam que ainda é cedo pra arriscar dizer como eles vão se
desenvolver e se ficou alguma sequela.
Porém, o histórico deles, certamente,
aponta para a superação. “Foi um momento, para mim, muito bom, de muita
felicidade, dia após dia. Lá dentro, a felicidade transborda, dá ânimo
de vida na gente, né?! Não tem preço, sabe. A força vem deles muito pra
minha vida. Da minha esposa, vai ficar a saudade e o aprendizado”,
explica o pai, Muriel Padilha.
Frankielen está sendo velada na manhã desta quarta-feira (22) e deve ser enterrada na sequência.
G1